A Surpresa

“É impressionante como eu não gosto de ninguém mas, de vez em quando, escapa um momento, um gesto, uma pessoa perdida, linda e única. E eu fico nessa felicidade de ser uma pessoa boa e capaz dessas coisas boas.”

(Tati Bernardi)

Com toda a certeza que pode existir nesse mundo, as pessoas são extremamente imprevisíveis e a constante mudança pela qual a maioria delas passa (inclusive eu) é o mais interessante a se observar.

Não imaginei que o veria depois de dois anos como o vi hoje, não ele que sempre tentou ser tão correto aos meus olhos, não ele que sempre mediu palavras ao falar comigo, não ele que nunca conseguiu provocar meus instintos maus e descontrolados, não, definitivamente, não.

Talvez não fosse ele, talvez fosse a noite completamente “bizarra” de hoje, coisas estranhas aconteceram e não fui surpreendida apenas pelo tal, afinal, as pessoas são extremamente impresíveis, como já disse.

A: Você lembra a primeira vez que a gente se falou pessoalmente? Lembra das ligações até as 5 da manhã? Lembra das conversas no msn? Lembra daquele show inesquecível? Lembra quanto tempo durou o nosso “quase namoro”? Lembra daquele dia que você me deixou de lado, esquecido, pra dar atenção a um amigo? Lembra porque eu não olho nos seus olhos? Lembra quando eu costumo estalar os dedos? Lembra onde a gente deu o primeiro beijo? Lembra porque você me deixou? Lembra daquele dia de chuva? Não lembra, não é verdade? Você não lembra!

B: É, é verdade, eu não me lembro de tudo isso! Lembro das ligações; do show;  do tal dia que te troquei por um amigo; lembro que você não consegue olhar nos meus olhos enquanto a gente conversa, simplesmente porque não consegue conversar assim, porque não se sente bem; lembro que você estala os dedos quando está nervoso; lembro do primeiro beijo; mas eu não guardo datas, roupas, muitos momentos e muitos detalhes dessa época.

A: Tá vendo só? Eu sabia que você não lembrava, por isso eu perguntei. Você é a única garota que “quase” namora um cara e não lembra essas coisas!

B: Tudo bem, eu sou a estranha aqui! Eu não me lembro, tá legal? Era isso que você queria ouvir? E qual o sentido da gente discutir isso agora, depois de dois anos, depois de tanto tempo? Você lembra o que conversamos há 5 minutos atrás? Não! Eu sei que não!

A: Mas eu lembro de cada detalhe da época em que estávamos juntos, lembro de tudo o que nós vivemos juntos, você não lembra!

B: O.K! Então você lembra qual o tipo de música que eu curto? Minha banda preferida? As músicas que você me ofereceu?

A: Não, eu não lembro! Mas e você, lembra tudo isso sobre mim?

B: …Hãam, éee, pois é…brega? melody? forró? Ah, não sei!

A: Tá vendo, eu não lembro as suas, mas ao menos eu não tentei e errei, provando o que já sabia!

B: Então tá, vou entrar em casa agora. Boa noite (dá-se um abraço, meio tosco), e até mais!

A: Sabe porque eu tô aqui há uma hora falando tudo isso, lembrando tudo isso?

B: Não! Porque seria?

A: Eu só queria isso, só queria um abraço seu!

As pessoas são extremamente imprevisíveis, indecifráveis, incógnitas e cálculos matemáticos complicados de se resolver; linhas de um código sistemático que, ainda que pareçam perfeitas ao serem digitadas, insistem em dar erro quando compiladas; as pessoas tem uma facilidade muito grande de nos surpreender a cada dia, a cada gesto, momento, palavras e reações que julgamos impossíveis e invisíveis até que um dia aconteçam.

Descobri que gosto de surpresas, gosto do improvável, do indecifrado, do inesperado, talvez seja isso o que me faz uma pessoa boa e capaz de coisas boas às vezes (raramente), talvez a surpresa me provoque pontinhas de raiva e me tire um sorriso bobo ou um olhar ameaçador, mas eu sou meia avessa à normalidade mesmo; costumo ter reações diferentes às que a maioria das pessoas tem; mas a sensação de ser, estar ou fazer bem em geral me felicita e desperta essa boa garota que existe em alguma das muitas que vivem em mim.

Os dias passam, os anos, as horas; as pessoas mudam, se mudam, tudo acaba se transformando de alguma forma; mas a memória, o momento, os detalhes, isso fica, ou melhor devem ficar! Não somos máquinas, somos seres humanos imperfeitos e falhos, porém, apesar disso tudo somos capazes de guardar os momentos compartilhados; ainda que não sejam importantes para nós, ainda que pareçam apenas momentos como outros tantos, eles sempre, eu disse SEMPRE serão importantes para outra pessoa, ou para essa pessoa perdida, linda e única que vai te surpreender e te fazer feliz em ser uma pessoa boa e capaz de coisas boas.

Faça uma surpresa, seja uma surpresa, surpreenda apenas.

 

25/02/2011

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